Juventude em foco: pesquisas de estudantes da EPSJV revelam preocupações com realidades e desafios de jovens no Brasil

Redação OJC&T - EPSJV/Fiocruz | 06/11/2024 15:15:59
foto da tenda lotada de estudantyes apresentando seus trabalhos em posteres

A Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV) da Fiocruz lançou um caderno de resumos da Reunião Anual de Iniciação Científica (Raic) 2024, que reúne 67 projetos de estudantes do 4º ano do Curso Técnico de Nível Médio em Saúde (CTNMS), das áreas de Análises Clínicas, Biotecnologia e Gerência em Saúde. Esses estudantes apresentaram suas pesquisas em evento aberto ao público, realizado em 24 de outubro, na EPSJV, no campus Fiocruz Manguinhos. 

Na edição de 2024, além de temas ligados à juventude, foco desta matéria, esses estudantes abordam temáticas de interesses diversos, relacionados ou não a sua área de formação – vale a pena conferir o livreto [no link] para conhecer mais uma iniciativa que busca aproximar jovens do exercício da pesquisa e da reflexão crítica. 

Os trabalhos que destacamos refletem a busca dos estudantes em entender as realidades da juventude no Brasil. Ao abordar temas como condições de vida, subjetividade, vulnerabilidade social e saúde mental, os projetos confirmam o interesse desses jovens em compreender e transformar o contexto em que vivem. “Durante as apresentações na Raic, os alunos mostram maturidade e criatividade ao explorar temas desafiadores, como adoção tardiaJovem na frente de seu pôster., juventude periférica, racismo e consumo de cigarros. Observamos o impacto positivo dessa trajetória no desenvolvimento deles”, afirma a Vice-diretora de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico da EPSJV, Monica Vieira.

A iniciação científica oferece um espaço essencial para que jovens estudantes da EPSJV explorem questões sociais, culturais e de saúde que afetam diretamente suas gerações. A participação na Raic fortalece o vínculo desses jovens com a ciência e contribui para a formação como futuros profissionais, além de possibilitar uma troca de conhecimentos enriquecedora, essencial para o desenvolvimento de carreiras comprometidas com a realidade social brasileira. 

Anna Clara Santos Marinho, por exemplo, investigou, sob orientação de Regimarina Soares Reis, as condições de vida e trabalho das juventudes no Brasil contemporâneo, analisando como fatores econômicos e sociais impactam os jovens em diferentes contextos. “Desde pequena, sempre ouvi de minha mãe e familiares sobre a importância de estudar para ter acesso a um trabalho que fosse valorizado na sociedade, com boa remuneração. No entanto, cedo percebi que esse discurso não se aplica para todos. Vejo muitas pessoas negras e mulheres que, mesmo estudando e se esforçando, não conseguem acessar esse mercado de trabalho digno, devido a barreiras como raça, gênero e condições de vida”, relata Ana Clara.

jovem apresentando seu pôster a pesquisadora.Ewerton Amado de Souza, orientado por Ariadna Patrícia Estevez Alvarez, examinou as motivações e comportamentos da juventude, abordando a subjetividade e os fatores culturais e psicológicos que influenciam as ações dos jovens. “Sempre tive interesse em psicologia e queria entender melhor as motivações dos jovens, uma fase cheia de transformações e desafios. Acredito que o estudo pode ajudar professores e pais a compreenderem melhor o comportamento juvenil, especialmente em um contexto de pressão social e comparações nas redes. Muitas vezes, nós não nos sentimos totalmente compreendidos em nossas escolhas e caminhos”, afirma Ewerton.
estudante apresenta seu pôster à pesquisadora
Já a estudante Lorena Vitória Castro Lima da Silva, sob orientação de Fernanda do Nascimento Martins, focou na vulnerabilidade territorial e social, destacando os desafios enfrentados pela juventude periférica diante das desigualdades e exclusões. A jovem periférica reflete sobre as dificuldades enfrentadas em busca de educação e oportunidades que exigem grandes sacrifícios diários. Moradora de Bangu, ela se desloca diariamente para a Fiocruz e questiona por que oportunidades educacionais de qualidade estão concentradas em locais distantes das periferias. Lorena enfatiza que a juventude periférica é constantemente forçada a "sobreviver" na cidade, ajustando-se a uma rotina exaustiva para alcançar seus sonhos, o que considera injusto. “Sonho cursar Direito, conquistar uma qualidade de vida e de ver essas oportunidades distribuídas de forma mais justa em todos os territórios”, deseja Loestudante aponta em seu pôster pontos da sua pesquisa.rena.

No campo da saúde mental e uso de substâncias, Maria Eduarda Marques, sob orientação de Tiago Savignon Cardoso Machado, estudou os riscos do consumo de cannabis na adolescência em relação à esquizofrenia, uma pesquisa que contribui para importantes discussões sobre os impactos do uso de drogas na juventude. "Estudar os efeitos da cannabis no sistema nervoso e seu possível papel no desenvolvimento de doenças é um tema que me interessa muito, especialmente devido ao impacto direto que isso pode ter na saúde de adolescentes, que é a população mais vulnerável. A pesquisa busca entender como o uso de cannabis afeta essa faixa etária e levanta a importância de se discutir a legalização para possibilitar estudos mais profundos sobre a planta”, alertou Maria Eduarda.

Mariano Salusto da Silva Neto, orientado por Gabriele Paulanti dejovem apresentando seu pôster. Melo Teixeira, investigou o papel do Rap na expressão e denúncia do racismo na periferia, mostrando como a música se torna uma forma de resistência e construção identitária. "O Rap não é só música, é uma voz de resistência, uma forma de expressar as injustiças que a gente vive diariamente. Quero que os jovens da minha comunidade entendam que podem transformar sua realidade e que a violência e o racismo que enfrentamos não são normais. Espero que meu trabalho inspire outros a buscar conhecimento e a lutar por mudanças reais", defendeu Mariano.

Os projetos são reflexo das questões que atravessam as vivências desses jovens e o compromisso em gerar conhecimento, usando a pesquisa científica, que traga mudanças para suas trajetórias pessoais e comunidades. O caderno de resumos da Raic 2024, acessível [aqui], mostra parte do trabalho realizado no Programa de Iniciação Científica (PIC) da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV). Integrando o ensino médio com a formação técnica, o PIC permite que estudantes explorem temas relevantes às suas realidades por meio do Projeto Trabalho, Ciência e Cultura (PTCC). Orientados por professores-pesquisadores da EPSJV, esses projetos abordam temas urgentes para a sociedade, incluindo questões sociais, culturais e de saúde que impactam diretamente diversas comunidades no Brasil.

O PTCC é a monografia que resulta no trabalho final que os alunos do 4º ano do Curso Técnico de Nível Médio em Saúde (CTNMS) apresentam na conclusão do curso da EPSJV. Com temas livres e variados, os projetos abrangem uma série de áreas do conhecimento, permitindo que cada estudante investigue temas de interesse sob orientação especializada.
 

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